sábado, 29 de março de 2008

"A anatomia do fascismo" - Capítulo 1: p.13-49 - Fichamento 2 -

No início do texto “A anatomia do fascismo”, Paxton declara que o fascismo foi a grande inovação do século XX e também a origem da boa parte de seus sofrimentos. Os fascistas conseguiriam ganhar espaço combinando uma ditadura antiesquerdista cercada de entusiasmo popular.
A palavra fascismo é originada da palavra fascio italiana, cujo significado é “um feixe” ou “maço”, porém a palavra remete também ao fasces latino, ou seja, um machado cercado por um feixe de varas que era levado diante dos magistrados, nas procissões públicas romanas, para significar a autoridade e a unidade do Estado. O termo fascismo foi adotado primeiramente na por Mussolini na Itália pós-primeira Guerra Mundial para descrever o estado de ânimo do pequeno bando de ex-soldados nacionalistas e revolucionários sindicalistas pró-guerra.
O fascismo nasceu em Milão, num episódio em Março de 1919, no qual se reuniram veteranos de guerra, sindicalistas que haviam apoiado a guerra e intelectuais futuristas, para declarar guerra ao socialismo, em oposição ao nacionalismo. Movimento esse apelidado por Mussolini de “fraternidades de combate”. Esse movimento atentava também para atos violentos, de antiintelectualismo, de rejeição a soluções de compromisso e de desprezo pela sociedade estabelecida.
O fascismo irrompido por Mussolini era contra não só ao socialismo como também contra a legalidade burguesa, em nome de um pretenso bem nacional maior. Trata-se também de um movimento contra a esquerda e contra o individualismo liberal. Outros movimentos semelhantes estavam se alastrando pela Europa, mostrando uma mistura de nacionalismo, anticapitalismo, voluntarismo e violência ativa contra seus inimigos, tanto burgueses quanto socialistas, como por exemplo, o nazismo. Em palavras de Roger Griffin: “O fascismo é a ditadura explícita e terrorista dos elementos mais reacionários, mais chauvinistas e mais imperialistas do capital financeiro”. Além do caráter nacionalista, anticapitalista, antiliberalista, pode-se destacar o caráter anti-semitista, porém só será relevante na Alemanha fascista. O que os nazistas pretendiam fazer na verdade, era uma limpeza étnica, ou seja, eliminar os defeituosos e impuros, buscavam a estética do corpo perfeito e uma racionalidade científica que rejeitava os critérios morais. O que o fascismo criticava no capitalismo não era a sua exploração, mas seu materialismo, sua indiferença para com a nação e sua incapacidade de incitar as almas.
Para alguns, o antimodernismo também era uma característica do fascismo, porém pode-se encontrar uma contradição nesse discurso, na medida em que os primeiros movimentos fascistas exploraram os protestos das vítimas da industrialização rápida e da globalização – os perdedores da modernização – usando, sem dúvida alguma, os estilos e as técnicas de propagandas mais modernas, entretanto, mais tarde, os regimes fascistas optaram pela concentração e pela produtividade industrial, pelas vias expressas e pelos armamentos. Os regimes buscavam uma modernidade alternativa: uma sociedade tecnicamente avançada, na qual as tensões e cisões da modernidade houvessem sido sufocadas pelos poderes fascistas de integração de controle.
Paxton propõe que os movimentos fascistas, jamais teriam crescido sem a ajuda das pessoas comuns, mesmo das pessoas convencionalmente boas, das quais muitas ficaram indignadas com as brutalidades cometidas.
O fascista, segundo os próprios líderes, é aquele que abraça a ideologia fascista – uma ideologia sendo mais que simples idéias, mas todo um sistema de pensamento subordinado a um projeto de transformação de mundo. O líderes tentavam apelar às emoções, pelo uso de rituais, de cerimônias cuidadosamente encenadas e de retórica intensamente carregada.
Paxton conclui o seu texto propondo examinar o fascismo em cinco estágios:
· A criação dos movimentos
· Seu enraizamento no poder político
· A tomada do poder
· O exercício do poder
· O longo período de tempo durante o qual o regime faz a opção pela radicalização ou pela entropia.

Bibliografia:

GRIFFIN, Roger, ed., Fascism. Oxford: Oxford University Press, 1995, p.262.
PAXTON, Robert O. A anatomia do fascismo. São Paulo, Paz e Terra, 2007. Capítulo1: p.13-49

sábado, 22 de março de 2008

"Os Fascismos" - Francisco Carlos Teixeira da Silva - Fichamento 1 -

Francisco Carlos Teixeira da Silva procura mostrar em seu texto “Os fascismos” o fenômeno do fascismo com uma conotação política mais ampla. O fascismo é um fenômeno que está ligado às contradições da modernidade, que não está restrito ao período entreguerras.
Denomina-se de fascismo o conjunto de movimentos e regimes de extrema direita que dominou um grande número de países europeus, tais quais Itália (chamado de fascismo padrão), Alemanha (chamado de fascismo radical), Hungria, Espanha, França de Vichy, desde o início dos anos 20 até 1945, porém o fascismo para muitos, ficou circunscrito ao nazismo e associado exclusivamente à história da Alemanha. O nazismo é um fenômeno do projeto fascista.
De acordo com o historiador Wolfgang Shieder poder-se-ia afirmar “que se reconhece como fascistas movimentos nacionalistas extremistas de estrutura hierárquica e autoritária e de ideologia antiliberal, antidemocrática e anti-socialista que fundaram ou intentaram fundar, após a Primeira Guerra Mundial regimes estatais autoritários. Neste último sentido, o fascismo constitui um dos fenômenos centrais e mais característicos do entreguerra” (Schieder, 1972, p. 97). Portanto, fascismo é um fenômeno com características peculiares, dentre elas o autoritarismo, o antiliberalismo, o antidemocratismo, o anti-socialismo e o nacionalismo, além de ser um regime de manipulação de massas. Os regimes são obrigados a adotar meios violentos, amparados em uma polícia secreta eficaz e numa propaganda ideológica maciça. As grandes massas estariam inseridas na participação mecânica ou na militância fanática.
Todos os fascismos são marcados por uma busca de raízes nacionais ou raciais que explicariam a autenticidade de seu próprio movimento. Todos os líderes fascistas em suma propunham um mesmo programa, partilhavam a mesma concepção de mundo, criavam mecanismos similares de manipulação de massas, votavam o mesmo ódio e desprezo pelo socialismo e pelo liberalismo e perseguiam as minorias tais como judeus, homossexuais, comunistas ou deficientes físicos.
O fascismo acusa as formas liberais de organização e de repressão, em especial o parlamentarismo liberal, de originarem a crise contemporânea. As posturas antiliberais tomam duas dimensões: de um lado a idéia de falência do sistema liberal e, de outro, o caráter geneticamente desagregador do liberalismo. O fascismo ofereceria uma variada gama de organismos sociais, onde o Estado deveria ser visto de forma harmoniosa, despido de contradições no seu próprio interior, bem diferentemente do Estado liberal, dilacerado por querelas de grupos. O Estado apresenta-se como fator de coesão nacional, capaz de reerguer a nação e restaurar a identidade nacional dilacerada pelas lutas ensejadas pelo regime liberal.
O Estado fascista busca seu poder político na unidade do povo. A única maneira de alcançar essa unidade entre povo e Estado, seria o Estado autoritário. Esse Estado não se caracteriza por uma autocracia e sim por uma policracia, com fontes autônomas de poder, com objetivos muitas vezes conflitantes, reunidos em torno de uma doutrina e de uma personalidade autoritária e carismática, o líder nacional.
O caráter propagandista do regime autoritário (alemão) e a busca pela identidade nacional ficam evidentes na passagem a seguir: “só pode ser cidadão quem for membro da comunidade popular. Só pode ser membro da comunidade popular quem é de sangue alemão [...]” (Os 25 pontos do Partido Nacional-Socialista Alemão).
O Estado possui um caráter intervencionista, pois é ele que organiza, normatiza e dirige a sociedade, com total desprezo por qualquer esfera exclusiva do privado. Neste campo, a principal tarefa do fascismo é fazer cessar as causas da desagregação social e, assim, transcender ao estranhamento dos indivíduos e dotá-los de uma identidade autêntica. A interferência permanente do Estado na vida privada dos cidadãos era parte integrante da mentalidade fascista, e um espaço vazio para a livre organização, mesmo que fosse um time de futebol, não era bem visto.
No plano econômico, o fascismo propunha um Estado que se apresentaria como a corporação do trabalho, supraclassista e acima dos interesses privados e de suas representações partidárias. Tendia a recuperar o primado político, submetendo o econômico a estreito dirigismo. A idéia básica era centrada na relação direta, de colaboração entre capital e trabalho, conforme o modelo corporativista. A política econômica pretendida pelos fascistas denomina-se autarquia.
Assim o dirigismo estatal e a organização corporativa, além de reconstruírem uma identidade perdida ao longo da instauração da sociedade industrial, liberal e de massas surgiam como poderoso instrumento anticrise.
O fascismo ficou marcado pelo anti-semitismo, pelo ódio aos judeus e a outros grupos
minoritários. Foi na Alemanha que o ódio aos judeus tomou aspecto de política de Estado, objetivo nacional. O massacre aos judeus nos é claramente conhecido como a barbárie do Holocausto. O fascismo identifica em si mesmo valores absolutos e qualquer diferença tornar-se-á objeto de eliminação violenta. O Holocausto deve ser filiado a uma concepção de mundo que nega qualquer possibilidade de um contratipo ao seu tipo padrão, e não à história específica de um povo.
A característica básica dos fascistas é a frieza, o distanciamento do outro, enquanto pessoa, em favor da identificação com um coletivo anônimo; já a minoria perseguida (judeus, homossexuais e ciganos) é caracterizada pela solidariedade, pela possibilidade de enfrentar desafios em nome do amor.
Ainda hoje, o fascismo é cultuado por alguns grupos, os neonazistas, espalhados pela Europa. Na Alemanha, a desnazificação é marcantemente incompleta e permite uma ponte visível entre o fascismo histórico e o neofascismo.

Bibliografia

SCHIEDER, Wolfgang. 1972. “Fascismo”. In História 3. Madri, Rioduero.
SILVA, Francisco C.T. da, “Os fascismos” In.: REIS FILHO, Daniel Aarão. Século XX. Vol. II: o tempo das crises. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2000.