sábado, 22 de março de 2008

"Os Fascismos" - Francisco Carlos Teixeira da Silva - Fichamento 1 -

Francisco Carlos Teixeira da Silva procura mostrar em seu texto “Os fascismos” o fenômeno do fascismo com uma conotação política mais ampla. O fascismo é um fenômeno que está ligado às contradições da modernidade, que não está restrito ao período entreguerras.
Denomina-se de fascismo o conjunto de movimentos e regimes de extrema direita que dominou um grande número de países europeus, tais quais Itália (chamado de fascismo padrão), Alemanha (chamado de fascismo radical), Hungria, Espanha, França de Vichy, desde o início dos anos 20 até 1945, porém o fascismo para muitos, ficou circunscrito ao nazismo e associado exclusivamente à história da Alemanha. O nazismo é um fenômeno do projeto fascista.
De acordo com o historiador Wolfgang Shieder poder-se-ia afirmar “que se reconhece como fascistas movimentos nacionalistas extremistas de estrutura hierárquica e autoritária e de ideologia antiliberal, antidemocrática e anti-socialista que fundaram ou intentaram fundar, após a Primeira Guerra Mundial regimes estatais autoritários. Neste último sentido, o fascismo constitui um dos fenômenos centrais e mais característicos do entreguerra” (Schieder, 1972, p. 97). Portanto, fascismo é um fenômeno com características peculiares, dentre elas o autoritarismo, o antiliberalismo, o antidemocratismo, o anti-socialismo e o nacionalismo, além de ser um regime de manipulação de massas. Os regimes são obrigados a adotar meios violentos, amparados em uma polícia secreta eficaz e numa propaganda ideológica maciça. As grandes massas estariam inseridas na participação mecânica ou na militância fanática.
Todos os fascismos são marcados por uma busca de raízes nacionais ou raciais que explicariam a autenticidade de seu próprio movimento. Todos os líderes fascistas em suma propunham um mesmo programa, partilhavam a mesma concepção de mundo, criavam mecanismos similares de manipulação de massas, votavam o mesmo ódio e desprezo pelo socialismo e pelo liberalismo e perseguiam as minorias tais como judeus, homossexuais, comunistas ou deficientes físicos.
O fascismo acusa as formas liberais de organização e de repressão, em especial o parlamentarismo liberal, de originarem a crise contemporânea. As posturas antiliberais tomam duas dimensões: de um lado a idéia de falência do sistema liberal e, de outro, o caráter geneticamente desagregador do liberalismo. O fascismo ofereceria uma variada gama de organismos sociais, onde o Estado deveria ser visto de forma harmoniosa, despido de contradições no seu próprio interior, bem diferentemente do Estado liberal, dilacerado por querelas de grupos. O Estado apresenta-se como fator de coesão nacional, capaz de reerguer a nação e restaurar a identidade nacional dilacerada pelas lutas ensejadas pelo regime liberal.
O Estado fascista busca seu poder político na unidade do povo. A única maneira de alcançar essa unidade entre povo e Estado, seria o Estado autoritário. Esse Estado não se caracteriza por uma autocracia e sim por uma policracia, com fontes autônomas de poder, com objetivos muitas vezes conflitantes, reunidos em torno de uma doutrina e de uma personalidade autoritária e carismática, o líder nacional.
O caráter propagandista do regime autoritário (alemão) e a busca pela identidade nacional ficam evidentes na passagem a seguir: “só pode ser cidadão quem for membro da comunidade popular. Só pode ser membro da comunidade popular quem é de sangue alemão [...]” (Os 25 pontos do Partido Nacional-Socialista Alemão).
O Estado possui um caráter intervencionista, pois é ele que organiza, normatiza e dirige a sociedade, com total desprezo por qualquer esfera exclusiva do privado. Neste campo, a principal tarefa do fascismo é fazer cessar as causas da desagregação social e, assim, transcender ao estranhamento dos indivíduos e dotá-los de uma identidade autêntica. A interferência permanente do Estado na vida privada dos cidadãos era parte integrante da mentalidade fascista, e um espaço vazio para a livre organização, mesmo que fosse um time de futebol, não era bem visto.
No plano econômico, o fascismo propunha um Estado que se apresentaria como a corporação do trabalho, supraclassista e acima dos interesses privados e de suas representações partidárias. Tendia a recuperar o primado político, submetendo o econômico a estreito dirigismo. A idéia básica era centrada na relação direta, de colaboração entre capital e trabalho, conforme o modelo corporativista. A política econômica pretendida pelos fascistas denomina-se autarquia.
Assim o dirigismo estatal e a organização corporativa, além de reconstruírem uma identidade perdida ao longo da instauração da sociedade industrial, liberal e de massas surgiam como poderoso instrumento anticrise.
O fascismo ficou marcado pelo anti-semitismo, pelo ódio aos judeus e a outros grupos
minoritários. Foi na Alemanha que o ódio aos judeus tomou aspecto de política de Estado, objetivo nacional. O massacre aos judeus nos é claramente conhecido como a barbárie do Holocausto. O fascismo identifica em si mesmo valores absolutos e qualquer diferença tornar-se-á objeto de eliminação violenta. O Holocausto deve ser filiado a uma concepção de mundo que nega qualquer possibilidade de um contratipo ao seu tipo padrão, e não à história específica de um povo.
A característica básica dos fascistas é a frieza, o distanciamento do outro, enquanto pessoa, em favor da identificação com um coletivo anônimo; já a minoria perseguida (judeus, homossexuais e ciganos) é caracterizada pela solidariedade, pela possibilidade de enfrentar desafios em nome do amor.
Ainda hoje, o fascismo é cultuado por alguns grupos, os neonazistas, espalhados pela Europa. Na Alemanha, a desnazificação é marcantemente incompleta e permite uma ponte visível entre o fascismo histórico e o neofascismo.

Bibliografia

SCHIEDER, Wolfgang. 1972. “Fascismo”. In História 3. Madri, Rioduero.
SILVA, Francisco C.T. da, “Os fascismos” In.: REIS FILHO, Daniel Aarão. Século XX. Vol. II: o tempo das crises. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2000.

2 comentários:

Letícia Carneiro disse...

Cara, eu te amo. Era tudo que eu precisava pra minha prova!

Unknown disse...

Cara senhorita Thompson,primeiramente gostaria de parabenizá-la pelo blog ! Segundo, eu sou graduado em história e estou fazendo uma pesquisa a respeito do tema para escreve um livro e estou procurando pessoas que se interesse pelo assunto como você ! Meu nome José Ribeiro e meu email é joseribeiro89@gmail.com Atualmente estou residindo aqui na capital,mas sou do interior.Caso se interesse,estou a sua mercê !!!