domingo, 6 de abril de 2008

"A anatomia do Fascismo" - Capítulo 8: p.335-361 - Robert Paxton - Fichamento 3

Paxton propõe uma questão no início do capítulo – o que é fascismo? –. Ele relembra os cinco estágios do fascismo mostrados no primeiro capítulo de seu livro. Alguns autores crêem que os movimentos iniciais constituem-se no fascismo puro, enquanto que regimes fascistas são corrupções, entretanto tiveram mais impacto que os movimentos por terem em mãos o poder de guerra e de morte. Para Paxton, o fascismo no poder consiste num composto, um amálgama poderoso dos ingredientes distintos, mas combináveis do conservadorismo, do nacional-socialismo e da direita radical, unidos por inimigos em comum e pela mesma paixão pela regeneração, energização e purificação da nação, qualquer que seja o preço a ser pago em termos das instituições livres e do estado de direito.
O autor analisa também o caráter obsessivo dos fascistas como um objeto de estudo da psicanálise, objeto esse (Hitler e Mussolini) encontra-se inacessível. Os psicanalistas partem do pressuposto que se alguns fascistas eram de fato loucos, como seu público os adorava e de como eles conseguem exercer suas funções eficazmente por tanto tempo.
A Alemanha em inícios da década de 30 encontrava-se profundamente polarizada. Os clubes alemães, desde o canto coral até os seguros funerários, estavam segregados em redes separadas de socialistas e não-socialistas, o que facilitou a exclusão dos socialistas e a encampação dos demais pelos nazistas.
Há uma corrente de pensamento que vê o fascismo como uma ditadura desenvolvimentista, estabelecida com o propósito de acelerar o crescimento industrial pela poupança forçada e pela arregimentação da força de trabalho, porém o que Hitler queria era submeter a economia para fazê-la servir a fins políticos.
Paxton faz uma comparação entre o regime nazista de Hitler e o regime de Stalin. Em ambos os regimes, a lei estava subordinada aos imperativos mais altos da raça ou da classe. Concentrar o foco nas técnicas de controle, contudo, pode fazer com que diferenças importantes sejam obscurecidas. O regime de Stalin diferia do de Hitler em termos de dinâmica social e também de seus objetivos. Stalin governava uma sociedade civil que havia sido radicalmente simplificada pela Revolução Bolchevique; já Hitler chegou ao poder contando com o assentimento e até mesmo com o auxílio das elites tradicionais.
Ambos os regimes também se diferem em termos de seus objetivos últimos declarados. Para o regime hitlerista a supremacia da raça mestra, para o stalinista a igualdade universal. Stalin matava de maneira totalmente arbitrária os “inimigos de classe”, de modo que atingia basicamente os homens adultos da população. Já Hitler matava os “inimigos raciais”, uma condição que condena até mesmo recém-nascidos. Ele queria exterminar povos inteiros, incluindo suas sepulturas e seus artefatos culturais.
O fascismo também é comparado por Paxton a uma religião: no nível de uma analogia ampla, ele é útil por apontar a maneira pela qual o fascismo, de maneira semelhante à religião, mobilizava os fiéis em torno de ritos e palavras sagradas, estimulava-os até o ponto do fervor abnegado e pregava uma verdade que não admitia dissidência.
O fascismo por ter como uma de suas características o autoritarismo, algumas vezes pode ser confundido como uma ditadura militar. Os autoritários preferem deixar suas populações desmobilizadas e passivas, já os fascistas querem engajar e excitar o público. Os autoritários querem um Estado forte, mas limitado. Hesitam em intervir na economia, coisas que os fascistas sempre estão prontos a fazer, ou em criar programas de bem-estar social. Não devemos utilizar o termo fascismo para as ditaduras pré-democráticas. Por mais cruéis que elas sejam, falta-lhes a manipulação do entusiasmo das massas e a energia demoníaca do fascismo, que vão lado a lado com a missão de “abandonar as instituições livres” em nome da unidade, da pureza e da força nacionais. Embora todos os fascismos sejam militaristas, nem todas as ditaduras militares são fascistas. A maioria das ditaduras militares atua como simples tirania, sem ousar desencadear a excitação popular do fascismo. As ditaduras militares são muito mais comuns que o fascismo, pois não possuem um vínculo obrigatório com uma democracia fracassada, e são tão antigas quanto os guerreiros.
Por fim, Paxton encerra o capítulo dando uma definição bem clara sobre o que é o fascismo, respondendo sua questão inicial. O fascismo tem que ser definido como uma forma de comportamento político marcada por uma preocupação obsessiva com a decadência e a humilhação da comunidade, vista como vítima, e por cultos compensatórios da unidade, da energia e da pureza, nas quais um partido de base popular formado por militantes nacionalistas engajados, operando em cooperação desconfortável, mas eficaz com as elites tradicionais, repudia as liberdades democráticas e passa a perseguir objetivos de limpeza étnica e expansão externa por meio de uma violência redentora e sem estar submetido a restrições éticas ou legais de qualquer natureza.


Bibliografia:

PAXTON, Robert O. “A anatomia do fascismo”. São Paulo. Paz e Terra, 2007. Capítulo 8: p.335-361

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