domingo, 18 de maio de 2008

“A anatomia do fascismo” – Capítulo 7, p.283 – 334 – Robert Paxton - Fichamento 6

O fascismo teria acabado? Haveria a possibilidade de um Quarto Reich ou algo equivalente estar sendo gestado? Em termos mais modestos, existiriam condições nas quais algum tipo de neofascismo poderia vir a se tornar um agente poderoso o suficiente para exercer influência sobre as políticas de um sistema de governo?
São essas as perguntas que iniciam o capítulo “Outras épocas, outros lugares” de Robert Paxton. Ele vai procurar respondê-las dando alguns exemplos de lugares nos quais o fascismo teve ou tem influência não só na Europa como em outras partes do mundo.
Um possível renascimento do fascismo passou a enfrentar novos obstáculos após 1945: a crescente prosperidade e a globalização aparentemente irreversível da economia mundial, o triunfo do consumismo individual, o declínio da disponibilidade da guerra como instrumento de política nacional para os grandes países da era nuclear, a redução da credibilidade da ameaça revolucionária. Todos esses desdobramentos do pós-guerra sugerem a muitos que o fascismo, tal como floresceu na Europa entre as duas guerras mundiais, não poderia voltar a existir depois de 1945. Embora o fascismo ainda esteja vivo, as condições da Europa do entreguerras, que permitiram a ele fundar grandes movimentos e até mesmo tomar o poder, deixaram de existir.
De acordo com Paxton, o estágio da fundação dos movimentos de extrema direita com algum tipo de vínculo explícito ou implícito com o fascismo continua ocorrendo de forma generalizada. Entretanto, quando esses movimentos se tornam enraizados nos sistemas políticos como atores importantes e representantes de interesses significativos, impõe testes históricos de um grau muito maior de exigência.
Ex-nazistas e ex-fascistas impenitentes, durante toda a geração que se seguiu à Segunda Guerra Mundial, criaram movimentos-herdeiros em todos os países europeus. Seria de se esperar que os fascismos saudosistas diminuíssem à medida que a geração de Hitler e Mussolini e a geração seguinte fossem morrendo. Inesperadamente, entretanto, movimentos e partidos de direita entraram em um período de crescimento nos anos de 1980 e 1990.
O declínio dos setores fabris tradicionais foi um processo longo, mas assumiu proporções de crise após o primeiro e o segundo “choques do petróleo” , de 1973 e 1979. Enfrentando a competição dos “tigres asiáticos”, com seus custos de mão-de-obra inferiores, sobrecarregados com sistemas de seguridade social caros e com falta de estoques de energia, que vinha ficando cada vez mais cara, a Europa, pela primeira vez desde a década de 1930, passou a enfrentar o desemprego estrutural de longo prazo. Essa transformação sísmica do mercado de trabalho tendeu a produzir sociedades divididas em dois níveis: a parcela da população com maior nível de escolaridade se saiu muito bem na nova economia, ao passo que as camadas que não tinham acesso ao treinamento necessário pareciam fadadas a uma situação permanentemente de subclasse.
Os europeus tiveram que aprender a coexistir com comunidades permanentes de africanos, indianos e islâmicos, que alardeavam suas identidades separadas. A ameaça imigrante não era apenas econômica e social. Eles, com seus costumes, línguas e religiões estranhos, eram freqüentemente percebidos como um fator de enfraquecimento da identidade nacional. O componente mais perturbador da direita radical, a partir da década de 1980 foi o fenômeno skinhead. Jovens descontentes, desocupados e ressentidos desenvolveram um culto à ação violenta, expresso em cabeças raspadas, insígnias nazistas, música oi agressiva e ataques homicidas a imigrantes, especialmente africanos e muçulmanos e também a homossexuais.
Nos programas e nas declarações de partidos da direita radical européia ouvem-se ecos dos temas fascistas clássicos: medo da decadência e do declínio; afirmação da identidade nacional e cultural; a ameaça à identidade nacional e à ordem social representada pelos estrangeiros inassimiláveis; e a necessidade de uma autoridade mais forte para lidar com esses problemas. A maioria desses partidos é vista como movimentos de causa única, direcionado a mandar de volta a seus países de origem imigrantes indesejáveis e a reprimir a delinqüência desses grupos, só por essa razão que a maioria de seus eleitores tem seu voto. O elemento cuja ausência é mais notada, é o clássico ataque fascista à liberdade de mercado e ao individualismo econômico, a ser sanado pelo corporativismo e pela regulamentação dos mercados. Uma outra faceta dos programas do fascismo clássico ausente na direita radical da Europa do pós-guerra é o ataque fundamental às constituições democráticas e ao estado de direito. Um novo espaço se abriu para a direita radical européia a partir da década de 1970: a revolta dos contribuintes contra o Estado do bem-estar social.
Em suma, ainda que a Europa Ocidental a partir de 1945 tenha tido “fascismos herdeiros” na França, Itália, Áustria e Bélgica e Sérvia , por exemplo, e ainda que, a partir da década de 1980 uma nova geração de partidos de extrema direita, normalizados, apesar de racistas, tenha conseguido até mesmo ingressar em governos locais e nacionalistas na qualidade de parceiros minoritários, as circunstâncias, hoje em dia, são diferentes da Europa do entreguerras que não há abertura significativa para partidos abertamente filiados ao fascismo clássico.
Alguns observadores argumentam que o fascismo histórico específico exigia pré-condições especificamente européias da revolução cultural do fim do século, da intensa rivalidade entre os novos pretendentes ao status de Grande Potência, do nacionalismo de massas e da disputa pelo controle das novas instituições democráticas. Aqueles que estabelecem uma relação mais próxima entre o fascismo e crises políticas e sociais são mais dispostos a considerar a possibilidade de um equivalente fascista numa cultura não européia.
A América Latina, entre 1930 e inícios da década de 1950, chegou mais perto que qualquer outro continente que não a Europa do estabelecimento de algo próximo a regimes genuinamente fascistas. Brasil de Getúlio Vargas e Argentina de Perón são os maiores exemplos dessa influência fascista.
As similaridades são encontradas nos mecanismos de poder, nas técnicas de propaganda e na manipulação de imagens e, ocasionalmente, em políticas específicas tomadas de empréstimo ao fascismo, tais como a organização corporativista da economia. As diferenças se tornam mais aparentes quando examinamos os ambientes sociais e políticos e a relação desses regimes com a sociedade.
Tanto Vargas como Perón tomaram o poder das oligarquias, e não democracias falidas, e ambos, ampliaram a participação política. Governavam nações que ainda não se haviam formado por completo, e tentaram integrar num Estado nacional unificado suas populações díspares e seus chefes políticos locais, bem como as facções comandadas por estes. Os ditadores do fascismo clássico, ao contrário, governavam sobre Estados-nações já estabelecidos e obcecados com as ameaças a sua unidade, a sua energia e a sua posição. Nem Vargas nem Perón se sentiram obrigados a exterminar um grupo específico. Sua polícia, embora brutal e incontrolada, punia inimigos individualmente identificados, não tendo como meta a eliminação de categorias inteiras, como fez a ss de Hitler.
Em suma, as similaridades parecem se referir aos métodos e instrumentos tomados de empréstimo à época do apogeu do fascismo, enquanto as diferenças apontam para questões mais fundamentais de estrutura, função e relação com a sociedade.
Essa influência fascista se deu também no Japão. A ditadura militar expansionista que gradualmente surgiu no Japão entre 1931 e 1940 é chamada de fascista por alguns porque consistia de um governo de emergência, controlado por uma aliança entre a autoridade imperial, o grande empresariado, o primeiro escalão do serviço público e os militares, em defesa de interesses de classe ameaçados.
É entendendo de que forma o fascismo do passado funcionava, que nos tornamos capazes de reconhecê-lo. Sabendo o que sabemos hoje sobre o ciclo fascista, poderemos encontrar sinais de advertência ainda mais funestos em situações de impasse político diante de uma crise, em que os conservadores ameaçados procuram por aliados brutais, dispostos a abrir mão do devido processo legal e do estado de direito, tentando angariar o apoio das massas por meio de demagogia nacionalista e racista. Os fascistas se aproximam do poder quando os conservadores começam a tomar emprestado suas técnicas, apelar a “paixões mobilizadoras” e a tentar cooptar suas hostes.



Bibliografia
PAXTON, Robert O. A anatomia do fascismo. São Paulo, Paz e Terra, 2007. Capítulo 7: p.283-334

domingo, 11 de maio de 2008

"Modernidade e Holocausto" - Capítulo "Singularidade e normalidade do Holocausto" - Zygmunt Bauman - Fichamento 5

Bauman inicia o capítulo com uma pergunta pertinente do historiador Raul Hilberg: “Vocês não ficariam mais felizes se eu pudesse mostrar que todos os que perpetraram [o crime] eram loucos?”. Pois é exatamente isso que ele não pode mostrar. A verdade que ele de fato mostra não traz nenhum alívio, é improvável que deixe alguém feliz. Os criminosos foram pessoas educadas de sua época.
O autor trata da singularidade do Holocausto, singularidade essa através do uso da racionalidade organizativa. A normalidade e a singularidade do Holocausto é seu cunho burocrático, instrumental e administrativo. O que há de mais terrível no Holocausto não é o genocídio, não é a quantidade de pessoas que ele matou, e sim a forma com que essas pessoas foram eliminadas. O que prova como é ruim ser diferente e como é bom estar são e salvo atrás do escudo de uma civilização superior. Por tudo que conheciam e acreditavam o assassinato em massa para o qual ainda nem tinham nome era pura e simplesmente inimaginável. Porém, sabemos que o inimaginável deve ser imaginado.
Dentro de certos limites estabelecidos por questões de poder político e militar, o Estado moderno pode fazer o que bem entende àqueles sob seu controle. Não há limite ético-moral que o Estado não possa transcender para fazer o que quiser, porque não há poder ético-moral mais alto que o Estado. Em matéria de ética e moralidade, a situação do indivíduo no Estado moderno é em princípio rigorosamente equivalente à do prisioneiro em Auschwitz: ou age de acordo com os padrões dominantes de conduta impostos pelos que detém a autoridade ou se arrisca a todas as conseqüências que eles queiram infligir. Ter que optar pela conformidade ou arcar com as conseqüências da desobediência não significa necessariamente viver em Auschwitz, e os princípios pregados e praticados pela maioria dos Estados contemporâneos não bastam para transformar seus cidadãos em vítimas do Holocausto. O Holocausto não só evitou o choque com as normas e instituições sociais da modernidade, mas foram essas normas e instituições que o tornaram factível. Sem a civilização moderna e suas conquistas mais fundamentais, não teria havido Holocausto. Quando chegou a hora do assassinato em massa, as vítimas se viram sozinhas. Não apenas se haviam iludido com uma sociedade aparentemente pacífica e humana, legalista e ordeira – seu senso de segurança seria um fator poderosíssimo da sua ruína. Vivemos num tipo de sociedade que tornou possível o Holocausto e que não teve nada que pudesse evitá-lo.
O assassinato em massa não é uma invenção moderna. Diante disso, parece negar-se a singularidade do Holocausto. O ódio comunitário mortífero sempre esteve entre nós e provavelmente nunca deixará de existir; e que nesse ponto a única importância da modernidade foi que, ao contrário do que prometia e da expectativa generalizada, não aparou suavemente as arestas sabidamente ásperas da coexistência humana e, portanto não pôs um fim definitivo à desumanidade do homem para com o homem. O Holocausto foi tanto um produto como um fracasso da civilização moderna. Ele é um subproduto do impulso moderno em direção a um mundo totalmente planejado e controlado, uma vez que esse impulso deixe de ser controlado e corra à solta.
O assassínio em massa contemporâneo caracteriza-se por um lado, pela ausência quase absoluta de espontaneidade e, por outro, pelo predomínio de um projeto cuidadosamente calculado, racional. Mas, antes e acima de tudo, destaca-se pelo propósito. O Holocausto absorveu um enorme volume de meios de coerção. Usando-os a serviço de um único propósito, também estimulou sua posterior especialização e aperfeiçoamento técnico. Livrar-se do adversário não é um fim em si. É um meio para atingir determinado fim, uma necessidade que decorre do objetivo último, um passo que se deve dar caso se queira chegar um dia à meta final. O fim em si é a visão grandiosa de uma sociedade melhor e radicalmente diferente.
As vítimas de Hitler não foram mortas para a conquista e colonização do território que ocupavam. Muitas vezes foram mortas de uma maneira mecânica, enfadonha, sem o estímulo de emoções humanas – sequer o ódio. Foram mortas por não se adequarem, por uma ou outra razão, ao esquema de uma sociedade perfeita.
É único entre outros casos históricos de genocídio porque é moderno. E é único face à rotina da sociedade moderna porque traz à luz certos fatores ordinários da modernidade que normalmente são mantidos à parte.
Assim foi que na Alemanha de meio século atrás essa burocracia recebeu a tarefa de tornar o país livre de judeus. A burocracia que se incumbiu tão bem da tarefa de limpar a Alemanha tornava factíveis tarefas mais ambiciosas e quase natural a escolha delas. Por fim e talvez mais importante, o modo de ação burocrática deixou sua marca indelével do processo do Holocausto. A burocracia não gerou o medo da contaminação racial e a obsessão com a higiene racial. Para isso precisava de visionários, pois a burocracia começa de onde param os visionários. Mas a burocracia fez o Holocausto. E o fez à sua própria imagem. A burocracia contribuiu para a continuidade do Holocausto, não apenas por sua inerente capacidade e suas técnicas, mas também por sua imanente enfermidade e afecções. A burocracia é intrinsecamente capaz de ação genocida.
O genocídio ocorre como parte integrante do processo pelo qual é implantado o grandioso projeto. O projeto lhe dá a sua legitimação; a burocracia estatal, o seu veículo; e o imobilismo da sociedade, o “sinal verde”.



Bibliografia

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade e holocausto. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1998. Capítulo “Singularidade e normalidade do Holocausto” p.106 a 141.

domingo, 4 de maio de 2008

" A era dos extremos" - Capítulo 5 - Contra o inimigo comum - Eric Hobsbawn - Fichamento 4

Eric Hobsbawn no texto “Contra o inimigo comum” aborda basicamente o nacional-socialismo. No período da Segunda Guerra Mundial, a URSS se transforma no principal aliado dos europeus. Em janeiro de 1939 se irrompesse uma guerra entre a União Soviética e a Alemanha, 83% dos americanos foram a favor de uma vitória soviética, contra 17% de uma alemã. A Alemanha era uma ameaça tanto para os EUA quanto para a URSS, portanto esses dois países se aliaram contra esse inimigo comum, pois representava um perigo maior do que cada um ao outro. O que forjou a união contra a Alemanha foi o fato de que ela não se tratava apenas de um Estado-nação com razões para sentir-se descontente com sua situação, mas de um Estado cuja política e ambições eram determinadas por sua ideologia, ou seja, de que era uma potência fascista.
A Segunda Guerra Mundial tornou-se uma guerra internacional, porque em essência suscitou as mesmas questões na maioria dos países ocidentais. Tratava-se de uma guerra civil, porque as linhas que separavam as forças pró e antifascistas cortavam cada sociedade. O que uniu todas essas divisões civis nacionais numa única guerra global, internacional e civil foi o surgimento da Alemanha de Hitler, ou mais precisamente entre 1931 e 1941, a marcha para a conquista e a guerra da aliança de Estados – Alemanha, Itália e Japão, da qual a Alemanha se tornou o pilar central. Ela era ao mesmo tempo mais implacável e comprometida com a destruição dos valores e instituições da “civilização ocidental” da Era das Revoluções, e mais capaz de levar a efeito seu bárbaro projeto.
A mobilização de todo o potencial de apoio contra o fascismo, isto é, contra o campo alemão, portanto, foi um triplo apelo pela aliança entre todas as forças políticas que tinham um interesse em comum em resistir ao avanço do Eixo: por uma política de real resistência e por governos dispostos a executar essa política. Sob certos aspectos, era provável que o apelo à unidade antifascista conquistasse a resposta mais imediata, pois o fascismo tratava publicamente todos os liberais, socialistas e comunistas ou qualquer tipo de regime democrático e soviético, como inimigos a serem destruídos. Eles tinham de unir-se, caso não quisessem ser eliminados um por um. O antifascismo, portanto, organizou os adversários tradicionais da direita, mas não inflou os seus números; mobilizou mais facilmente as minorias que as maiorias. Entre essas minorias, os intelectuais e os interessados nas artes estavam particularmente abertos a seu apelo, porque a arrogante e agressiva hostilidade do nacional-socialismo aos valores da civilização como até então concebidos, ficou imediatamente óbvia nos campos que lhes diziam respeito. O racismo nazista logo provocou o êxodo em massa de intelectuais judeus e esquerdistas, que se espalharam pelo que restava de um mundo tolerante. Os intelectuais ocidentais foram, portanto, a primeira camada social mobilizada em massa contra o fascismo na década de 1930.
Expansão e agressão faziam parte do sistema nacional-socialista, e, a menos que se aceitasse de antemão a dominação alemã, ou seja, se preferisse não resistir ao avanço nazista, a guerra seria inevitável, provavelmente mais cedo do que mais tarde. Este é o papel central da ideologia na formação da política da década de 1930: se determinou os objetivos da Alemanha nazista, excluiu a realpolitik ( conjunto de normas que passam a reger o Estado nacional) como alternativa para os adversários. O fato de o fascismo significar guerra era um motivo convincente para combatê-lo.
Quando a Alemanha invadiu a URSS e trouxe os EUA para a guerra – em suma, quando a luta contra o fascismo se transformou por fim numa guerra global – a guerra tornou-se tão política quanto militar. Internacionalmente, transformou-se numa aliança entre o capitalismo dos EUA e o comunismo da União Soviética. Este aliado torna-se fundamental para a derrota da Alemanha. O breve sonho de Stalin, de uma parceria americano-soviética no pós-guerra não fortaleceu de fato a aliança global de capitalismo liberal e comunismo contra o fascismo. Em vez disso, demonstrou a sua força e amplitude. É evidente que se tratava de uma aliança contra uma ameaça militar, e que nunca teria existido sem a série de agressões da Alemanha nazista, culminando com a invasão da URSS e a declaração de guerra aos EUA. A verdadeira base da vitória soviética foi o patriotismo da nacionalidade majoritária da URSS, os grandes russos, sempre a elite do Exército Vermelho, a que o regime soviético apelou em seus momentos de crise. Na verdade, a Segunda Guerra Mundial se tornou oficialmente conhecida na URSS como “ a Grande Guerra Patriótica”.
Em palavras de Eric Hobsbawn: o fascismo dissolveu-se como um torrão de terra lançado num rio, e praticamente desapareceu do cenário político de vez a não ser na Itália, onde um modesto movimento neofascista homenageando Mussolini tem uma presença permanente na política italiana. O fascismo desapareceu com a crise mundial que lhe permitira surgir. Jamais fora, mesmo em teoria, um programa ou projeto político universal. Quanto ao nacional-socialismo, nada tinha a oferecer à Alemanha pós 1945, a não ser lembranças amargas.
Os governos capitalistas estavam convencidos de que só o intervencionismo econômico podia impedir um retorno às catástrofes econômicas do entreguerras e evitar os perigos políticos de pessoas radicalizadas a ponto de preferirem o comunismo, como antes tinham preferido Hitler.
Hobsbawn encerra o seu texto com a seguinte conclusão: assim que não houve mais um fascismo para uni-los contra si, capitalismo e comunismo mais uma vez se prepararam para enfrentar um ao outro como inimigos mortais. O que vai gerar uma nova guerra, a Guerra Fria, que só teve fim em 1989.



Bibliografia

HOBSBAWN, Eric. A era dos extremos. São Paulo, Companhia das Letras, 1995. Capítulo 5 “Contra o inimigo comum”