domingo, 4 de maio de 2008

" A era dos extremos" - Capítulo 5 - Contra o inimigo comum - Eric Hobsbawn - Fichamento 4

Eric Hobsbawn no texto “Contra o inimigo comum” aborda basicamente o nacional-socialismo. No período da Segunda Guerra Mundial, a URSS se transforma no principal aliado dos europeus. Em janeiro de 1939 se irrompesse uma guerra entre a União Soviética e a Alemanha, 83% dos americanos foram a favor de uma vitória soviética, contra 17% de uma alemã. A Alemanha era uma ameaça tanto para os EUA quanto para a URSS, portanto esses dois países se aliaram contra esse inimigo comum, pois representava um perigo maior do que cada um ao outro. O que forjou a união contra a Alemanha foi o fato de que ela não se tratava apenas de um Estado-nação com razões para sentir-se descontente com sua situação, mas de um Estado cuja política e ambições eram determinadas por sua ideologia, ou seja, de que era uma potência fascista.
A Segunda Guerra Mundial tornou-se uma guerra internacional, porque em essência suscitou as mesmas questões na maioria dos países ocidentais. Tratava-se de uma guerra civil, porque as linhas que separavam as forças pró e antifascistas cortavam cada sociedade. O que uniu todas essas divisões civis nacionais numa única guerra global, internacional e civil foi o surgimento da Alemanha de Hitler, ou mais precisamente entre 1931 e 1941, a marcha para a conquista e a guerra da aliança de Estados – Alemanha, Itália e Japão, da qual a Alemanha se tornou o pilar central. Ela era ao mesmo tempo mais implacável e comprometida com a destruição dos valores e instituições da “civilização ocidental” da Era das Revoluções, e mais capaz de levar a efeito seu bárbaro projeto.
A mobilização de todo o potencial de apoio contra o fascismo, isto é, contra o campo alemão, portanto, foi um triplo apelo pela aliança entre todas as forças políticas que tinham um interesse em comum em resistir ao avanço do Eixo: por uma política de real resistência e por governos dispostos a executar essa política. Sob certos aspectos, era provável que o apelo à unidade antifascista conquistasse a resposta mais imediata, pois o fascismo tratava publicamente todos os liberais, socialistas e comunistas ou qualquer tipo de regime democrático e soviético, como inimigos a serem destruídos. Eles tinham de unir-se, caso não quisessem ser eliminados um por um. O antifascismo, portanto, organizou os adversários tradicionais da direita, mas não inflou os seus números; mobilizou mais facilmente as minorias que as maiorias. Entre essas minorias, os intelectuais e os interessados nas artes estavam particularmente abertos a seu apelo, porque a arrogante e agressiva hostilidade do nacional-socialismo aos valores da civilização como até então concebidos, ficou imediatamente óbvia nos campos que lhes diziam respeito. O racismo nazista logo provocou o êxodo em massa de intelectuais judeus e esquerdistas, que se espalharam pelo que restava de um mundo tolerante. Os intelectuais ocidentais foram, portanto, a primeira camada social mobilizada em massa contra o fascismo na década de 1930.
Expansão e agressão faziam parte do sistema nacional-socialista, e, a menos que se aceitasse de antemão a dominação alemã, ou seja, se preferisse não resistir ao avanço nazista, a guerra seria inevitável, provavelmente mais cedo do que mais tarde. Este é o papel central da ideologia na formação da política da década de 1930: se determinou os objetivos da Alemanha nazista, excluiu a realpolitik ( conjunto de normas que passam a reger o Estado nacional) como alternativa para os adversários. O fato de o fascismo significar guerra era um motivo convincente para combatê-lo.
Quando a Alemanha invadiu a URSS e trouxe os EUA para a guerra – em suma, quando a luta contra o fascismo se transformou por fim numa guerra global – a guerra tornou-se tão política quanto militar. Internacionalmente, transformou-se numa aliança entre o capitalismo dos EUA e o comunismo da União Soviética. Este aliado torna-se fundamental para a derrota da Alemanha. O breve sonho de Stalin, de uma parceria americano-soviética no pós-guerra não fortaleceu de fato a aliança global de capitalismo liberal e comunismo contra o fascismo. Em vez disso, demonstrou a sua força e amplitude. É evidente que se tratava de uma aliança contra uma ameaça militar, e que nunca teria existido sem a série de agressões da Alemanha nazista, culminando com a invasão da URSS e a declaração de guerra aos EUA. A verdadeira base da vitória soviética foi o patriotismo da nacionalidade majoritária da URSS, os grandes russos, sempre a elite do Exército Vermelho, a que o regime soviético apelou em seus momentos de crise. Na verdade, a Segunda Guerra Mundial se tornou oficialmente conhecida na URSS como “ a Grande Guerra Patriótica”.
Em palavras de Eric Hobsbawn: o fascismo dissolveu-se como um torrão de terra lançado num rio, e praticamente desapareceu do cenário político de vez a não ser na Itália, onde um modesto movimento neofascista homenageando Mussolini tem uma presença permanente na política italiana. O fascismo desapareceu com a crise mundial que lhe permitira surgir. Jamais fora, mesmo em teoria, um programa ou projeto político universal. Quanto ao nacional-socialismo, nada tinha a oferecer à Alemanha pós 1945, a não ser lembranças amargas.
Os governos capitalistas estavam convencidos de que só o intervencionismo econômico podia impedir um retorno às catástrofes econômicas do entreguerras e evitar os perigos políticos de pessoas radicalizadas a ponto de preferirem o comunismo, como antes tinham preferido Hitler.
Hobsbawn encerra o seu texto com a seguinte conclusão: assim que não houve mais um fascismo para uni-los contra si, capitalismo e comunismo mais uma vez se prepararam para enfrentar um ao outro como inimigos mortais. O que vai gerar uma nova guerra, a Guerra Fria, que só teve fim em 1989.



Bibliografia

HOBSBAWN, Eric. A era dos extremos. São Paulo, Companhia das Letras, 1995. Capítulo 5 “Contra o inimigo comum”

Um comentário:

Andréia disse...

Considerando que vc copiou todo o texto do Hobsbawm, seria interessante e imprescindível o uso de aspas.