domingo, 22 de junho de 2008

“A negação dos assassinatos em massa do nacional-socialismo: desafios para a ciência e para a educação política” – Krause-Vilmar - Fichamento 9

Krause-Vilmar tem o objetivo de abordar um tema específico que se localiza no amplo campo de estudos e análises do neonazismo e do extremismo político, a saber, a negação dos assassinatos em massa cometidos pelo nacional-socialismo. Para ele, a monstruosidade dos crimes nazistas impõe alguns compromissos permanentes, uma vez que muitas pessoas não podiam ou não queriam em vista do horror dos crimes, acreditar que seres humanos teriam sido capazes de fazer algo assim.
O Revisionismo pode ser definido como a negação pública dos crimes nazistas. As pessoas que ainda não negavam que tivesse ocorrido essa matança em massa por meio do uso de gás tóxico ou gás asfixiante, inicialmente relativizaram as declarações das testemunhas da época.
Os pontos que foram negados pelos revisionistas são os seguintes: o número de pessoas assassinadas; as técnicas usadas no extermínio; documentos e figuras históricas que foram apresentados; os locais dos campos de morte e a existência das câmaras de gás. O cerne das afirmações dos revisionistas consiste na negação do assassinato em massa dos judeus europeus. Frequentemente se questiona a culpa dos alemães pela guerra e a dimensão dos crimes cometidos por eles, que são minimizados ou bagatelizados. Essa relativização, bagatelização e negação dos crimes dos nacional-socialistas abrange uma gama ampla de assuntos, sendo que nela observa-se uma passagem fluida da relativização para a negação. Em muitas publicações revisionistas sobre o nacional-socialismo ou sobre a 2ª Guerra Mundial, não é feito o relato sobre o extermínio dos judeus europeus ou então ele é mencionado como sendo apenas um acontecimento, entre outros, relacionado à guerra.
Numa outra atitude, a existência dos crimes é admitida, mas se afirma que eles seriam apenas seqüelas inevitáveis dos acontecimentos relacionados à guerra.Em outra afirmação deste gênero, os crimes, inclusive os assassinatos nas câmaras de gás, não são negados, porém minimizados em suas dimensões. Os crimes não são negados, mas sustenta-se que não teriam sido ordenados pelas lideranças máximas dos nacional-socialistas. Por outro lado, encontramos a negação categórica do extermínio dos judeus e a explicação de que o Holocausto não passa de uma invenção, produzida simplesmente por um complô do judaísmo internacional.
Os que negam a ocorrência dos extermínios em Auschwitz argumentam em níveis que podem ser diferenciados qualitativamente. A primeira objeção diz respeito ao tratamento tendencioso dos testemunhos das vítimas. Os testemunhos dos criminosos são apresentados como tendo sido obtidos por meio de tortura ou de outras formas de extorsão e, por isso, considerados como inteiramente sem valor. Já as pessoas perseguidas, assassinadas e supliciadas, aparecem sempre na condição de mentirosas, como criadoras de fantasias e exageros. A segunda objeção que se deve levantar é que neste tipo de postura, a Alemanha é apresentada como sendo vítima da guerra. Uma terceira objeção que pode ser feita, em termos metodológicos com relação à postura dos revisionistas, diz respeito à descontextualização de documentos e de alguns fatos históricos. Quarta objeção: o foco das afirmações dos negacionistas é o campo de concentração de Auschwitz. Isto é digno de nota, porque embora os demais crimes do nacional-socialismo sejam sistematicamente negados por alguns revisionistas, tais crimes são somente tematizados de passagem. Outra característica da literatura revisionista que enseja um questionamento é o uso de uma linguagem marcada pelo ódio e pelo desprezo. O nível lingüístico da argumentação dessas pessoas não é objetivo, sóbrio, ou apropriado a um discurso que busque um distanciamento analítico. Pelo contrário, muitas vezes frases e expressões de origem anti-semita caracterizadas pelo ódio vêm à tona.
Krause-Vilmar faz alguns comentários sobre quatro complexos de fontes. Ele afirma que dispomos, por exemplo, de fichas de trabalho de trabalhadores civis em Auschwitz, que informam sobre os serviços de manutenção e reparos nas câmaras de gás. Nesse tipo de documentação, encontramos testemunhos que apontam para a existência de uma conexão entre as câmaras de gás e os crematórios.
Outro aspecto digno de consideração é a capacidade dos crematórios. É inquestionável e documentalmente comprovado, que os quatro crematórios existentes no campo de concentração foram planejados e construídos para um grande número de mortos. Outro complexo de fontes é constituído pelas reações aos relatos feitos por aqueles prisioneiros que fugiram de Auschwitz durante a guerra. A credibilidade desses relatos está assegurada pelo fato de que eles acarretaram decisões políticas de amplo alcance, que por sua vez estão documentadas através de testemunhos e registros. O quarto complexo de fontes diz respeito aos documentos da SS.
Dificilmente temos condições de discutir com os próprios defensores da negação, dado o ponto ao qual eles chegaram, enterrando a si próprios numa atitude de isolamento e encapsulamento. Entretanto, visto que a dúvida e a insegurança disseminadas pelas perguntas que eles formulam, mesmo que tais perguntas não sejam reconhecidas, faz-se necessário, no contexto da formação política e histórica, acionar uma argumentação clara em contraposição a esses defensores da negação.


Bibliografia:

KRAUSE-VILMAR, Dietfrid. “A negação dos assassinatos em massa do nacional-socialismo: desafios para a ciência e para a educação política” In.: MILMAN, Luís, VIZENTINI, Paulo, op. Cit., p.97 a 114.

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