domingo, 22 de junho de 2008

Resenha do livro “O diário de Anne Frank”

Anne Frank nasceu na Alemanha em 12 de junho de 1929. Aos quatro anos de idade sua família viu-se obrigada a deixar a Alemanha por conta da ascensão de Hitler ao poder. Vivia na Holanda quando a perseguição aos judeus também se deu nesse país. Otto Frank, pai de Anne, e sua família unem-se a mais quatro pessoas e decidem esconder-se dos invasores alemães. O esconderijo, no livro, é chamado por Anne Frank de Anexo Secreto, localizado em Amsterdã.
Em 12 de junho de 1942 Anne Frank ganha entre outros presentes um diário. Aí então que ela começa a escrever todos os fatos que acontecem em sua vida a partir desse dia:
“Espero poder contar tudo a você, como nunca pude contar a ninguém, e espero que você seja uma grande fonte de conforto e ajuda.”

O diário foi para Anne Frank um amigo, um companheiro, um pai e uma mãe, no qual ela pôde contar todas as suas reflexões, aflições, tensões, medos e pensamentos mais íntimos. Refiro-me ao diário como um pai e uma mãe devido à sua difícil relação com sua família. Ela mal se entendia com a mãe e sua irmã mais velha Margot que tinha personalidade completamente diferente da sua. Sua mãe sempre a comparava a Margot, enaltecendo as qualidades desta. A única pessoa em que ela tinha uma boa relação era seu pai, pessoa à qual ela admirava, porém não podia conversar sobre todos os assuntos. Algum tempo mais à frente Anne reconhece que foi mimada demais pelos seus pais, foi tratada com gentileza, a defenderam dos van Daan e fizeram o máximo que poderiam ter feito. Porém nunca havia sido compreendida por eles.

“Dá para ver facilmente a diferença entre o modo como tratam Margot e o modo como me tratam. Por exemplo, Margot quebrou o aspirador de pó, e por causa disso ficamos sem luz o resto do dia. Mamãe disse:
- Bom, Margot, dá para ver que você não está acostumada a trabalhar; do contrário, não puxaria a tomada pelo fio.
Margot respondeu alguma coisa e ficou por isso mesmo.
Mas hoje à tarde, quando eu quis reescrever umas coisinhas na lista de compras de mamãe porque a letra dele é difícil de entender, ela não deixou. Brigou comigo de novo, e toda a família terminou se envolvendo. (...) Papai é o único que sempre me compreende, embora geralmente fique do lado de mamãe e Margot.” P. 43

Como não tinha ninguém para compartilhar as suas intimidades, Anne Frank escreve à sua amiga imaginária Kitty, todos os eventos da vida cotidiana não só dentro, como fora do Anexo, desde bombardeios à assaltos no meio da noite.
No dia 9 de julho de 1942, Anne Frank, seu pai, sua mãe e sua irmã chegam ao Anexo Secreto com a ajuda de pessoas que trabalhavam com Otto Frank: Bep, Sr. Kleiman, Sr. Kugler, Miep. O esconderijo ficava no prédio do escritório de Otto Frank, não era mais que um escritório de fundos, pequeno e entulhado, lugar em que ela viveria com mais sete pessoas por aproximadamente dois anos.
As pessoas que estavam escondidas no Anexo eram:
- A família Frank (Anne Frank, Otto Frank, Sra. Frank e Margot)
- A família van Daan (Sr. e Sra. van Daan e Peter)
- Albert Dussel
Anne Frank não se dava muito bem com a família van Daan, principalmente a Sra. van Daan, a qual Anne Frank algumas vezes refere-se em seu diário de modo pejorativo. Com o tempo, Anne foi simpatizando por Peter. Foi por ele em que ela descobriu o amor.

“ De vez em quando, Peter consegue ser muito engraçado. Nós dois temos uma coisa em comum:gostamos de nos fantasiar, e todo mundo cai na risada. Uma noite fizemos um número, com Peter usando um dos vestidos justos de sua mãe e eu com o terno dele. Ele estava de chapéu; eu com um boné. Os adultos rolaram de rir, e nós também nos divertimos demais.” P.65

“Peter atingiu-me mais que papai. Bem sei que fui eu quem o conquistou, não ele a mim. Formei em minha mente uma imagem de Peter, pintei-o como um rapaz quieto e sensível, digno de amor, carente de afeição e carinho. Precisava de alguém para com ele abrir meu coração; queria um amigo que me ajudasse a encontrar o caminho certo. Devagar, mas com segurança, atraí Peter para mim. Finalmente, ao conseguir que ele se tornasse amigo, automaticamente desenvolveu-se entre nós uma intimidade que, pensando bem, eu não deveria ter permitido. Falamos em coisas bem íntimas e no entanto, até hoje, jamais tocamos nas coisas que enchiam e ainda enchem minha alma e meu coração. Ainda não sei o que pensar de Peter. Será ele superficial ou ainda acanhado, mesmo comigo?” p.364

A vida no Anexo era um pouco monótona, portanto Anne Frank passava o tempo lendo, estudando francês, dando aulas de alemão para aqueles que necessitavam no esconderijo, até fez curso de taquigrafia. Seus livros favoritos eram os de mitologia grega. A monotonia também era quebrada na hora em que todos se juntavam no final da tarde para ouvir o rádio, essa era a hora que se mantiam informados em relação à guerra.
A comida era racionada, faltava luz, faltava água. Havia períodos até em que não podiam nem ligar a torneira e nem darem a descarga, pois qualquer barulho a mais poderia ser notada a presença de mais alguém no escritório.
Certa vez, o Anexo foi assaltado, mais precisamente no dia16 de julho de 1943. O relato de Anne mostra como esse fato afetou sua vida e dos demais moradores do esconderijo:

“Querida Kitty,
Houve outra invasão, mas dessa vez foi real! Hoje de manhã às sete horas, Peter desceu ao armazém e logo percebeu que a porta do depósito e da rua estavam abertas. No mesmo instante contou a papai, que foi até o escritório particular, ligou o rádio numa estação alemã e trancou a porta. Em seguida, os dois subiram de novo. Nesses casos, temos ordens para não nos lavarmos nem abrirmos nenhuma torneira, ficar quietos e vestidos e não ir ao banheiro. Como sempre, seguidos tudo ao pé da letra. Todos ficamos satisfeitos por termos dormido bem sem escutar nada. Durante algum tempo, ficamos indignados porque ninguém do escritório subiu a manhã inteira; o Sr. Kleiman nos deixou no suspense até às onze e meia. Ele contou que os ladrões haviam forçado a porta de fora e a do depósito com um pé-de-cabra, mas, como não viram nada que valesse a pena roubar, tentaram a sorte no andar de cima. Roubaram duas caixas contendo quarenta florins, talões de cheques em branco e, pior de tudo, cupons para 170 quilos de açúcar, toda a nossa cota. Não vai ser fácil conseguir outros.” P.131

Além de assaltos, os moradores do Anexo passaram por momentos de angústia e medo nas diversas vezes em que Amsterdã foi bombardeada. Todos desejavam que não estivessem lá, que estivessem confortáveis em suas respectivas casas.
Em março de 1944, depois de ter ouvido uma transmissão na rádio inglesa, convidando os cidadãos a preservarem a sua história de guerra, Anne decidiu que assim que a guerra terminasse, ela publicaria um livro baseado em seu diário. Foi então que a partir de maio de 1944, em um período de dois meses e meio, Anne começou a revisar fervorosamente seu diário com o intuito de publicá-lo.
Pelo fato de ter vivido num período conturbado, com a ascensão dos nazistas ao poder e de ter ficado mais de dois anos na clandestinidade vivendo em um esconderijo, num período de guerra e perseguição, circunstâncias tão peculiares, fez com que Anne Frank amadurecesse mais rápido do que os outros jovens de sua idade.
Em 4 de agosto de 1944, a polícia armada, mas com roupas civis invadiu o Anexo e prenderam as oito pessoas que estavam escondidas, além do Sr. Kugler e do Sr. Kleiman e pegaram todo o dinheiro e os objetos de valor que encontraram. Após a invasão, as duas secretárias que trabalhavam no prédio, Bep e Miep, encontraram as folhas do diário de Anne espalhadas pelo chão. Miep guardou-as em uma gaveta. Depois da guerra quando não havia mais dúvidas de que Anne estava morta, ela deu o diário a Otto Frank.
Kugler e Kleiman foram transferidos para uma prisão em Amsterdã. Depois para um campo em Amersfoot na Holanda. Kleiman foi solto ainda em 1944 devido a problemas de saúde e continuou em Amsterdã até sua morte em 1959. Kugler conseguiu fugir da prisão em 1945 quando estava sendo mandado com outros prisioneiros para um campo de trabalho forçado na Alemanha. Emigrou para o Canadá em 1955 e morreu em Toronto em 1989. Bep morreu em Amsterdã em 1983, já Miep ainda está viva e mora em Amsterdã.
Sr. van Daan morreu na câmara de gás de Auschwitz em outubro de 1944. A Sra. van Daan foi transportada de Auschwitz para outros campos de concentração, é certo que não sobreviveu mas não se sabe quando ela morreu. Peter foi obrigado a participar da marcha da morte, em janeiro de 1945, de Auschwitz a Mauthausen na Áustria, onde morreu em maio de 1945, três dias antes do campo ser libertado.
Albert Dussel morreu em dezembro de 1944 no campo de concentração de Neuengamme.
A Sra. Frank morreu em Auschwitz-Birkenau em janeiro de 1945 de fome e exaustão. Margot e Anne Frank foram transportadas de Auschwitz e levadas para Bergen-Belsen, na Alemanha. Irrompeu uma epidemia de tifo devido às péssimas condições de higiene, que matou Margot e uns dias depois Anne Frank aos 15 anos de idade. Otto Frank foi o único que sobreviveu aos campos de concentração. Casou-se novamente e foi morar em Birsfelden, na Basiléia, onde se dedicou a divulgar a mensagem do diário de sua filha às pessoas no mundo inteiro e morreu em agosto de 1980.

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