domingo, 15 de junho de 2008

“O ressurgimento da extrema direita e do negacionismo: a dimensão histórica e internacional” – Paulo F. Vizentini - Fichamento 8

Vizentini divide o capítulo em duas partes: nascimento, expansão, derrota e hibernação do fascismo e ressurgimento da extrema direito e o neonazismo. De acordo com ele serão focadas duas questões um pouco diferentes: o neonazismo e extrema direita e o extremismo político. Será dado enfoque também a um outro fenômeno distinto – as gangs – como, por exemplo, grupos de skinheads, verdadeiras tropas de choque, que por vezes esses movimentos produzem. Portanto, nem sempre são as mesmas pessoas, nem têm as mesmas características, sendo esse movimento, infelizmente, um processo múltiplo.
O nazifascismo é um movimento que está ligado à crise do liberalismo e à crise da própria noção de progresso. Ele retoma as tradições conservadoras que vinham praticamente desde a derrubada do Absolutismo, com as revoluções liberais e burguesas na Europa. Opunham-se à noção de progresso, de razão à noção iluminista. O que impulsionou esses movimentos foi a Crise de 29 e a Grande Depressão. O nazifascismo era visto como um movimento de um mal menor e uma forma de bloqueio à possibilidade de revoluções socialistas na Europa.
Em 1945, o fascismo foi derrotado, mas não eliminado ou vencido definitivamente, porém somos surpreendidos pelo ressurgimento, com muita força, desses movimentos. No final da 2ª Guerra Mundial, por exemplo, dois regimes de perfil fascista na Europa, Portugal de Salazar e a Espanha de Franco negociaram com as potências vencedoras e mantiveram-se no poder. Não podemos esquecer também do regime dos coronéis gregos durante os anos 60 e 80. Curiosamente, isto fez com que a extrema direita começasse a reorganizar-se, rearticular-se e integrar-se mais abertamente.
Quando termina a 2ª Guerra Mundial, emerge gradativamente aquilo que vai se chamar de Guerra Fria. Havia que reconstituir muitos desses países. Era preciso reconstituir o espectro político desses países, dota-los de novos partidos e criar grandes formações de centro ou de centro-direita que estabilizassem a vida política nacional, evitando a vitória da poderosa esquerda. Obviamente que as direções desses partidos, seus dirigentes, eram pessoas que vinham da oposição ao fascismo, algumas das quais haviam sido perseguidas, outras menos, mas pessoas que vinham da oposição.
É curioso, mas poucos anos depois de terminada a 2ª Guerra Mundial, já havia um discurso liberal em muitos dos antigos países fascistas, como se ali não tivesse havido nada de excepcional. Ou seja, o problema estava do outro lado da Cortina de Ferro, exclusivamente. Essa foi uma camuflagem muito útil para a manutenção da vida política nesses lugares, para quebrar o poder da resistência e dos grandes partidos de esquerda e dos sindicatos, que eram extremamente fortes em vários desses países. Outro fato curioso é que no período da Guerra Fria existia uma literatura soviética a justificar que, em certos países do Leste Europeu, determinados grupos políticos de oposição eram classificados como fascistas que se opunham ao regime que ali vigorava, tanto na época do stalinismo quanto depois, durante a desestalinização.
Durante os “anos dourados” houve uma desnazificação conduzida pelos governos, com políticas educacionais específicas dirigidas aos estudantes e toda a geração que se seguiu à Guerra, existindo um enquadramento desses em uma sociedade liberal democrática, uma sociedade de consumo, ocorrendo progressivamente, uma despolitização dessas populações.
Em meados da década de 70, o mundo inteiro é sacudido por diversas revoluções ultranacionalistas ou socialistas, que atingem o terceiro mundo, da Nicarágua à Angola, do Irã ao Vietnã. Nesse sentido, as elites e segmentos da classe média européia também começam a preocupar-se. A isso se soma também outro fator que favorece o renascimento do nazifascismo: a estagnação e a regressão demográfica dos países do Hemisfério Norte. A idéia de “invasão dos bárbaros” vai se arraigando no espírito dos europeus. Dessa forma, a Europa aparece como velho Império Romano em declínio e os bárbaros, aqueles de pele morena que vão invadir e conspurcar os modos de vida que os ocidentais detinham.
Por outro lado, essa sociedade de consumo substitui a idéia de cidadania em termos de militância política, por uma idéia de cidadania enquanto consumo. Portanto, há uma presença muito grande desse movimento de contra-cultura como desencanto com a sociedade de consumo, com a sociedade que se centrava na questão do indivíduo e do enriquecimento pessoal. Esse vai ser então, um local de recrutamento para as organizações fascistas ou neofascistas.
Os anos 80 são anos de retomada do liberalismo na economia e da retomada da Guerra Fria no plano da política internacional. É uma época que vai caracterizar-se pelo desemprego e por incertezas de toda ordem, por desencanto. A população européia começa a ver sua noção de progresso, prosperidade e segurança ser perdida. Estes aspectos não explícitos na superfície estão latentes na base e, no caso da Inglaterra é interessante, não só pelos skinheads, mas pelas torcidas organizadas, os hooligans, que estão fortemente implantados nos bairros de desempregados e de classes deprimidas. Logo em seguida, estas tensões sociais vão encontrar uma válvula de escape na xenofobia e no racismo, que foi seu grande ponto de partida e o seu relançamento.
Nos anos 90, com a queda do Leste Europeu, com o fim da URSS e da Guerra Fria, os neonazistas começam a fazer ações, principalmente nos países do Leste europeu que saem do regime socialista. A extrema direita, o nacionalismo, a xenofobia e as idéias neonazistas surgem com vigor em países onde até então não havia, de certa forma, estruturas e formas de convivência capazes de lidar com este fenômeno. Os riscos contidos no ressurgimento do nazismo e da extrema direita são incalculáveis. Estamos vivendo uma espécie de esgotamento, declínio e em alguns pontos, até colapso de uma ordem que existiu anteriormente.


Bibliografia:


VIZENTINI, Paulo F. “O ressurgimento da extrema direita e do neonazismo: a dimensão histórica e conceitual” In.: MILMAN, Luís, VIZENTINI, Paulo. Neonazismo, negacionismo e extremismo político. Porto Alegre, Editora da Universidade, 2000. p.17 a 46. Livro disponível em http://www.derechos.org/nizkor/brazil/libros/neonazis/

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